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Como Podemos Saber Algo?

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Em um mundo com crescente polarização e disseminação de desinformação, é crucial questionar a si mesmo sobre o que é verdadeiro, o que não é verdadeiro. Se dermos outro passo para trás, também podemos nos perguntar: como podemos saber algo?.

O Caso da Epistemologia

Essa pergunta aparentemente óbvia é o assunto central do ramo da Filosofia chamado Epistemologia.

Eu sei que a Filosofia tem a reputação de “lidar com questões abstratas, inconsequentes ou óbvias”, mas me ouça por um momento: se um indivíduo age de acordo com suas próprias crenças e sua própria compreensão do mundo, não seria do seu melhor interesse que suas crenças sejam verdadeiras, ou seja, que reflitam com maior precisão a realidade do mundo?

Se você concorda que esse é o caso, não há espaço somente para questionar suas próprias crenças, mas também - e, argumento, de forma mais importante - o processo pelo qual alguém chegou àquelas crenças.

Ao refletir sobre como as crenças são formadas, pode ser útil considerar como alguém adquire suas próprias primeiras crenças.

Nossas Primeiras Crenças

Em uma idade muito jovem, somos, sinceramente, indefesos. Crianças só sobrevivem até a idade adulta porque seus pais ou responsáveis as alimentam, fornecem abrigo e proteção.

A infância é também o momento em que começamos a aprender e desenvolver nossas crenças sobre como o mundo funciona: o que deve ser buscado? O que deve ser evitado? Quais são os perigos e recompensas envolvidos?

Como uma criança carece de recursos, tempo -- e até mesmo do entendimento de suas limitações --, aprender rapidamente sobre as coisas se torna não apenas importante, mas fundamental para a sobrevivência.

Durante a infância, as crenças são principalmente transmitidas pelos pais ou responsáveis por meio de analogia e experiência de segunda mão. Vamos nos aprofundar nesses dois tipos.

Neste artigo, exploraremos os méritos e limitações do primeiro tipo de conhecimento.

Méritos da Analogia

A analogia é uma fonte poderosa de conhecimento.

Vamos tomar, por exemplo, a própria linguagem. A primeira língua que um indivíduo aprende é por meio de analogia: não há alguém ativamente ensinando como falar -- pois os próprios meios linguísticos para permitir isso ainda não foram desenvolvidos. No entanto, uma criança é capaz de aprender essa habilidade complexa por meio da escuta e experimentação.

A analogia é claramente observada no mundo como um todo. As pessoas “copiam” o que percebem como estratégias que funcionaram para outras pessoas, adaptando os detalhes às suas próprias circunstâncias. Esta é uma maneira muito bem-sucedida de obter conhecimento, pois fazer o que funcionou para os outros, na maioria das vezes, produz resultados semelhantes para si mesmo.

Limitações da Analogia

Embora muito poderosa, a analogia tem uma limitação fundamental: só é possível aprender de situações, bem, análogas. Se confrontado com condições inesperadas ou novas, as crenças e convicções aprendidas podem ter pouca utilidade. Vamos ilustrar isso com um exemplo histórico.

No século XVIII, os cientistas da então Sacro Império Romano -- e posteriormente de Paris, França -- tentavam entender por que algumas coisas eram quentes ao toque, enquanto outras eram frias. A explicação foi baseada em uma analogia com fluidos.

Eles propuseram que todos os objetos continham um fluido indetectável, chamado “calorífico”. Assim, esse fluido fluiria dos objetos com mais dele (objetos quentes) para objetos com menos dele (objetos frios), fazendo assim o objeto quente esfriar e o objeto frio aquecer.

Essa teoria explicava muitas observações na época, mas era incompleta. A teoria moderna da Termodinâmica é baseada na mecânica e na “agitação” dos átomos. Este modelo mais recente explica ainda mais observações de maneira mais simples e consistente com a Física contemporânea.

O aqui ponto não é desmerecer as crenças do passado: aqueles estudiosos chegaram a conclusões com as ferramentas e conhecimentos disponíveis na época. O ponto é que a ciência moderna tem obtido um grau maior de sucesso ao abrir mão da analogia como ponto de partida.